ESG como Fundamento das Cidades Inteligentes

PARTE 1

No Brasil há a urgência de se autenticar um Modelo legítimo, por essa razão, entendo que o termo “Cidades Inteligentes” mesmo tendo ganhado espaço nas agendas públicas e privadas, há nessa estrutura uma falha conceitual recorrente: tratar o ESG como um adendo, quando na verdade ele é a espinha dorsal de qualquer modelo. Não há cidade inteligente sem compromisso ambiental, inclusão social e governança transparente. E não há como legitimar esse conceito sem reconhecer que o ESG é, por princípio, a base mestra de qualquer cidade que tenha a pretensão de se denominar e operar como ‘inteligente’.

Dentro da própria instrumentação operacional dos Modelos de Cidade Inteligente o ESG é o ‘Alicerce Estrutural’ e não uma opção semântica. Entenda que a escolha por tornar uma cidade inteligente há a implicação direta para que as ações propostas sejam materializadas e não fiquem só na intensão. Até que seja ‘esquecido’.

O tripé ESG — Ambiental, Social e Governança — não é apenas uma diretriz ética. Ele é o sistema operacional das cidades inteligentes. Na dimensão ambiental, falamos de mobilidade urbana de baixa emissão, redes elétricas inteligentes, gestão de resíduos e uso racional da água. No eixo social, trata-se de equidade no acesso à saúde, educação, moradia, conectividade e, tudo isso, culminando numa economia circular como política pública. Já na governança, o uso de big data, blockchain e IA para licitações e fiscalização pública fortalece a accountability (que significa: prestação de contas e à responsabilidade); assim se promove confiança institucional por trazer transparente real e não semântica.

E esse Tripé deve (ou deveria) provocar ações diretas de curto e médio prazo que tragam soluções de infraestrutura de qualidade e com a devida conservação sistemicamente. E para sair da retórica, trago alguns exemplos brasileiros que, em parte, sairam da Teoria à Prática:

– Curitiba (PR) é um caso emblemático. Nomeada Comunidade Inteligente do Ano em 2024 pelo Intelligent Community Forum (que é uma rede global com um think tank* em seu centro), a cidade investe há décadas em planejamento urbano, transporte coletivo eficiente e preservação ambiental. O distrito industrial verde abriga mais de 3.500 empresas não poluentes.

(*think tank: são organizações que se dedicam à pesquisa e análise de políticas públicas, oferecendo informações e recomendações para governos, empresas e sociedade em geral. Eles atuam como intermediários entre o conhecimento acadêmico e a formulação de políticas, buscando soluções para problemas sociais, econômicos e políticos).

– Florianópolis (SC) também desponta. Desde 2019, a prefeitura utiliza o sistema Monitora, que detecta desmatamento ilegal via satélites e drones, antecipando irregularidades e a deteriorização em até um ano.

– Já Porto Alegre (RS) testa a Bumerangue Tecnologias Ambientais, que transforma resíduos hospitalares em insumos reutilizáveis, gerando economia energética e reduzindo impacto ambiental. Porém com a última enchente; muitas diretrizes precisarão ser revisadas e remodeladas.

– São Paulo (SP), Maringá (PR) e Caxias do Sul (RS) avançam em mobilidade sustentável, coleta seletiva e inclusão digital. E em Cuiabá (MT), por exemplo, o desafio é integrar soluções de saneamento e energia solar em áreas periféricas, com apoio de PPPs e startups locais. Claro que estou trazendo uma visão geral…

Há muitas outras cidades brasileiras que estão buscando seu ‘marco inicial’ dentro do Modelo de Cidade Inteligente. O Brasil é tão diverso e com tantas realidades culturais e socioeconômicas que ouso a dizer que podemos ser… se levarmos isso – realmente – a sério… um enorme LABORATÓRIO instrumental e social. Há muito que se debater, mas devemos parar de aceitar em ficarmos na semântica do ‘vamos fazer’.

Ter atitude de ESG é se colocar aberto a aprender sempre e a ter a consciência que mudar de rota com mais rapidez pode ser a forma para acertar com mais constância. Mas entendo que a mudança de Mentalidade da Gestão Pública tem seus percalços pelo caminho. Neste cenário, resiliência e paciência podem ser grandes aliados. Assim, para encurtar um pouco esse caminho… também podemos aprender com os erros e acertos que outras cidades já passaram. Trago alguns exemplos…

América do Sul: Resultados Concretos

Uma das coisas mais fascinantes que há na Inovação é que você não precisa, necessariamente, ‘inventar’ algo novo. Precisamos apenas olhar para o vizinho e aprender com os exemplos e erros. Mas que fique claro que não estou – desestimulando o NOVO – a invenção de algo que – efetivamente – ainda não existe é sensacional.

Mas quando precisamos alavancar a mudança, a transformação e o reposicionamento da Mentalidade das pessoas, podemos buscar um caminho com um pouco mais de rapidez. Assim, olhar para o vizinho pode nos dar lampejos de novas ideias ou conseguir enxergar nossa realidade plausível naquela solução. Então, vejamos o que cidades de países Latinos já implantaram…

Na Argentina, a cidade de Mendoza implementou sensores urbanos para monitoramento hídrico e gestão de resíduos, reduzindo em 28% o consumo de água em áreas públicas.

Em Medellín, na Colômbia, o programa “Medellín Inteligente” integrou dados de mobilidade, segurança e educação, resultando em queda de 22% nos índices de violência urbana e aumento de 35% na eficiência dos serviços públicos.

Quando olho com atenção cada um desses resultados, consigo ver que a grande maioria pode ser trazida para as tantas realidades que temos aqui no Brasil. Claro com as suas devidas adaptações…

Mas, ao final, o que deve ser cobrado efetivamente – é a VONTADE real de solucionar os problemas. E não a solução em si, pois ela acaba por ficar apenas nas discussões acaloradas e de concreto só os ‘xingamentos’ entre vereadores nas Câmaras Municipais.

Novas Ideias para Cidades Brasileiras

Vejo que não há a necessidade de se criar o ‘Nirvana’, mas de recriar, reaproveitar e se adequar para que se abra a vontade de mudar o Modus Operandi de como fazemos as coisas no dia a dia. Trago uma junção de várias ideias já aventadas, mas que podem ser implantadas por várias cidades brasileiras ao mesmo tempo.

Cidades como Porto Alegre, Caxias do Sul, Cuiabá, Maringá e Florianópolis, poderiam aplicar:

– Plataformas de participação cidadã com IA para coleta de demandas em tempo real.

– Agricultura urbana inteligente, como o modelo de Curitiba premiado pela World Green City Awards.

– Infraestrutura verde modular, com telhados vivos e corredores ecológicos em áreas densas.

– Mobilidade sob demanda, como o projeto On.i-bus, que conecta passageiros com rotas personalizadas.

– Gestão energética descentralizada, com micro redes solares e baterias comunitárias.

– Implantação de usinas de transformação do Lixo Orgânico em energia e biocombustível.

Números Econômicos e Pesquisas

Ações concretas há, o passo seguinte é que vem sendo um problema diante da irracionalidade do pensamento político estrutural brasileiro que vê nas soluções um ‘inimigo’ a ser combatido.

Segundo o estudo Panorama Sustentabilidade Corporativa 2025, 76% das empresas brasileiras já implementam práticas sustentáveis com algum grau de maturidade. O faturamento das empresas participantes ultrapassa R$ 2,9 trilhões anuais.

A adoção de ESG entre empresas listadas na B3 saltou de 30% em 2021 para mais de 70% em 2023, com projeção de 90% até o fim de 20246.

Entretanto, apenas 48% realizam benchmarking externo, e 58% apontam dificuldade em comprovar retorno financeiro das ações ESG. Isso reforça a urgência de integrar métricas robustas e transparência nos projetos urbanos.

E, quase ficando ‘chata’, a conclusão óbvia é de que: Sem ESG, não há Cidade Inteligente!!

O Brasil não pode se dar ao luxo de tratar ESG como uma tendência passageira. Ele é o alicerce técnico, ético e estratégico das cidades inteligentes. Ignorar isso é construir sobre areia. A transformação urbana exige mais do que sensores e aplicativos: exige compromisso com o futuro, com as pessoas e com o planeta.

O assunto Cidades Inteligentes não se encerra. Há ainda muito a debater. Trago para reflexão duas frases da literatura gaúcha que podem ajudar a trazer mais celeridade as INTENÇÕES reais de gestores, vereadores e empresários de materializarem os caminhos da mudança nas cidades.

“Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.” Érico Veríssimo, do livro: Olhai os Lírios do Campo.

A frase é um chamado à reconexão com valores humanos e ambientais, alinhando-se perfeitamente com os princípios do ESG. Ela critica a cegueira provocada pela busca desenfreada por lucro e sucesso, e propõe uma pausa reflexiva — exatamente o que o ESG propõe: desenvolvimento com responsabilidade.

“A maior pressa é a que se faz devagar.” Simões Lopes Neto, do livro: Juca Guerra.

A frase, embora breve, carrega uma sabedoria profunda sobre o tempo e o cuidado. No contexto do ESG, ela pode ser interpretada como um convite à ação consciente e sustentável: não se trata de correr, mas de avançar com propósito, respeitando os ritmos da natureza, da sociedade e da ética.

É como digo sempre: Pensar dói, mas não fazê-lo… pode tornar os Idiotas certos!


KÁTYA DESESSARDS é Jornalista, Conselheira e Mentora em ESG e Comunicação Estratégica. Co-Autora no livro: Gestão! Como Evoluir em uma Nova Realidade?. Experiência de 27 anos em diversos setores do mercado.

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A coluna semanal fonteESG é publicada as segundas-feiras.

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Aldo Cargnelutti é editor na Rede Brasil Inovador. Estamos promovendo os ecossistemas de inovação, impulsionando negócios e acelerando o crescimento econômico. Participe!

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